Por Fabi Mesquita
A primeira semana da COP30 terminou deixando no ar uma sensação curiosa, aquela mistura de cansaço, esperança e alerta que só quem está vivendo uma conferência climática em território amazônico consegue explicar.
Belém respirou política internacional, mas também (e principalmente) respirou floresta, gente, calor, ruas ocupadas e vozes que não estão ali para fazer figuração. E, no meio desse turbilhão, (e provavelmente por causa dele) algumas coisas começaram a avançar.
O primeiro grande movimento veio logo na abertura: o Fundo de Perdas e Danos, criado lá atrás na COP27, finalmente saiu do papel de maneira concreta.
Ana Toni, diretora-executiva da conferência, anunciou a primeira chamada com US$ 250 milhões em solicitações. Não é apenas dinheiro, é um sinal político de que o mundo começa a admitir que os danos já estão acontecendo e que alguém precisa arcar com a conta. Um passo tímido diante do tamanho da crise, mas ainda assim um passo histórico.
Avançou também a parte mais técnica, aquela que quase ninguém vê, mas define o rumo das políticas globais. Cerca de 60% dos temas da agenda já têm textos de decisão caminhando, como lembrou a pesquisadora Brenda Brito, do Imazon.
E a façanha de reduzir cinco mil indicadores dos Objetivos Globais de Adaptação para uma lista enxuta de aproximadamente 100 foi concluída logo nos primeiros dias. Um trabalho de formiguinha que vai permitir monitorar, de verdade, quem cumpre o quê.
Outro ponto simbólico, e potente, foi o lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém, apresentado por Alexandre Padilha e Ana Toni. Pela primeira vez, uma COP reconhece oficialmente que a crise climática já repercute diretamente no sistema de saúde, e que adaptar o SUS é urgente.
Enchentes, ondas de calor, doenças emergentes e desigualdades extremas não esperam. O plano chega como um aviso: não existe futuro climático possível sem proteger as vidas de agora.
No campo da energia, o chamado “Compromisso Belém 4X” ganhou força. O acordo, que prevê quadruplicar o uso de combustíveis alternativos até 2035, recebeu novos países signatários. O mundo ainda patina, e muito, na transição energética, mas qualquer avanço nesse terreno, especialmente vindo da Amazônia, tem peso simbólico e político.
Fora dos auditórios climatizados, a cidade também falou alto. A presença dos povos indígenas, com sua centralidade incontornável, lembrou ao mundo que não existe enfrentamento climático sem território vivo.
E Belém, com todas as suas urgências e belezas, serviu como cenário e advertência: nenhuma política global faz sentido se não dialogar com quem vive a floresta.
Assim, a primeira semana termina com avanços reais, mas sem ‘romantização’. O essencial, adaptação, financiamento, transição energética, ainda depende da segunda fase, quando chegam ministros, chefes de Estado e toda a engrenagem pesada da diplomacia internacional.
Belém abriu o caminho. Agora, o mundo precisa decidir se atravessa ou se continua parado à beira do abismo fingindo que está se movendo.


Deixe um comentário